Novidades

Post Top Ad

Your Ad Spot

sábado, 17 de junho de 2017

Entrevista com Paulo Juk, Baixista do Blindagem.


No final de 1970 o Brasil sofre uma pequena transformação musical quando o rock começa a se sobressair e ganhar mais destaque no meio artístico musical. É neste contexto que surge em Curitiba, a Banda Blindagem, a legítima representante paranaense da grande onda que se espalhava pelo planeta. Nessa entrevista Paulo Juk fala de como foi o começo da carreira da banda, parceria com Paulo Leminski, histórias das músicas do Blindagem e do que acha de cenário atual da música no Brasil.


Como foi o começo de carreira e qual era a ideia no começo da banda?
"Bom na verdade eu que dei o nome de blindagem. Não surgiu de uma ideia minha, pois na verdade qualquer garoto que gostasse de Beatles e Rolling Stones queria montar uma banda e eu não era diferente, tinha uma banda e gostava muito de música, morava no interior, adorava música sertaneja e caipira, a partir daí conheci o rock e nunca mais larguei."


Tem muitas influencias da música caipira no Blindagem. Isso veio como algo natural de suas influências?
"É uma coisa natural. Sempre tivemos o habito de compor tudo no violão, e o violão naturalmente caminha para uma coisa mais suave. Essa coisa de parecer mais regional esteve presente desde o primeiro disco do Blindagem. Antes a gente tocava, mas não esse estilo de música, era algo até mais puxado para o Hard Rock.”

“Quando fomos gravar o primeiro disco, conhecemos um produtor, e tocando violão na casa dele as conversas se direcionaram para o trabalho do primeiro disco. Coisa que o Ivo fazia com Paulo Leminski na época. Depois de pronto vimos que o disco tinha toda essa conotação dirigida para uma coisa não exatamente regional, mas meio que com uma defesa da ecologia falando de natureza. E como o disco foi muito emblemático na época e até hoje continua sendo vendido e procurado, no decorrer da nossa carreira, sempre fizemos músicas com essa mesma conotação, seguindo essa linha; falando do Paraná e do “Cheiro do Mato””.

“Quando fizemos “La Vai o Trem” morávamos no Rio de Janeiro. “Igual A Mim” retrata a situação que vivíamos la de ver assalto dentro do ônibus. Pegávamos ônibus para ir para a gravadora e do nada subia policiais armados dentro do ônibus para fazer revistas. Esta foi uma inspiração do Ivo e que mostrava que ninguém podia prender nem eu nem você, somos pessoas livres. Como qualquer música, o rock representa o cotidiano. Seja naquela época ou na época atual o rock sempre teve essa conotação desde a guerra do Vietnã. A letra representa algo do cotidiano que a gente vê no dia a dia.”


O que você acha da moda do vinil?
"O que eu penso é que não é a moda do vinil, qualquer moda é cíclica. Assim é com a música, hoje vemos bandas fazendo música parecendo Pink Floyd dos anos 70. E fazendo como se fosse moderna e pode até ser moderno, já que tudo é cíclico. Voltar no vinil é quase algo natural, pela nostalgia. Hoje a tecnologia é tão apurada que sempre vai ter a nostalgia e a curiosidade de ver e rever como era. As picapes que estão sendo vendidas hoje já estão saindo com a agulha digital que tira o timbre gostoso de ouvir que é totalmente diferente e impossível de ouvir no CD, no DVD ou Digital"


Semana Passada completou 50 anos do lançamento do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles. Você é um grande fã de Beatles e de música em geral, Tem algum disco que marcou sua vida?
"Sou suspeito para falar porque sou um Beatlemaniaco. Eu gosto de tudo dos Beatles. É difícil, pois minha vida mudou quando eu ouvi uma música dos Beatles do álbum "Please Please Me", em 1962/63. Para mim a música se divide como antes e depois dos Beatles. Não adianta hoje um cara dizer que não gosta de Beatles mas gosta de outra banda. Todas as outras bandas surgiram de alguma forma com alguma influência dos Beatles ou foram influenciados por alguém que foi influenciado por eles. Com Beatles você tem heavy metal, hard rock, baião, você tem de tudo. São os gênios da nossa geração."


Qual sua relação e opinião hoje com o rádio, LPs, músicas para download e streaming?
"Não tem como fugir disto, é uma coisa natural da tecnologia. Se na década de 60/70 vivemos uma revolução cultural, de liberdade sexual, e tudo, hoje em dia é uma revolução tecnológica que muda de dia a dia. Por mais nostálgico que seja ficar ouvindo LPs é algo natural da tecnologia, reformando conceitos. Nem download de músicas estão fazendo mais hoje em dia, poucas pessoas fazem, a maioria está indo para o streaming mesmo. Acho inclusive que a rádio vai sobreviver com notícias, pois é difícil com o Spotify você querer ligar a rádio."


Nos últimos anos tivemos uma grande ascensão Funk e do Sertanejo Universitário. Como você vê o cenário musical hoje em dia?
"Como eu falo sempre, tudo é cíclico. Na década de 80 só existia rock no Brasil e todas as bandas de rock tocavam no rádio. Uma vez fiz um show com o Blindagem no Rio de Janeiro, tinham 42 bandas naquele evento e todos tocaram no radio sem parar.

“Os Paralamas do Sucesso, RPM, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii e outras bandas tocavam no radio direto, esta era nossa realidade, o que aconteceu foi que naturalmente há um esgotamento. Como as bandas talvez não fossem tão unidas a ponto de criaram um movimento de conservação que fizesse um ajustamento de formas musicais, mas fosse se preservando, abriu brechas para outros estilos musicais. ”

“O sertanejo que a gente fala hoje surgiu há mais de 20 anos a traz. O Blindagem foi sertanejo, no nosso primeiro LP gravamos uma música do Milionário e José Rico. O que aconteceu foi que o sertanejo se popularizou e quando vimos se teve um sertanejo totalmente diferente do que tínhamos antes. Mas o sertanejo de hoje se organizou e criou estruturas para que outros sertanejos viessem até chegar no universitário. O próprio sertanejo hoje é rock, os músicos fazem solo de bateria, guitarra etc. O Funk sempre existiu e são correntes musicais, na verdade tem espaço para todo mundo."


O que você acha das bandas curitibanas?
"Curitiba tem muitas bandas boas, mas nenhuma se sobressaiu a ponto de dizer que é uma banda de nível nacional. Existem bandas que tem um trabalho de nível nacional e um reconhecimento nacional como o Blindagem. Hoje tem uma leva nova também que se destaca. Sempre tivemos excelentes bandas, o problema é nosso mercado aqui que é meio complicado e como ficamos sempre na dependência de Rio de Janeiro e São Paulo, complica, pois lá tem centenas de bandas."


Você acha que Curitiba poderia ter um reconhecimento maior e ter entrado mais no radar de grandes bandas de nível mundial se a Pedreira Paulo Leminski não tivesse sido fechada?
“Com certeza. Tivemos o azar de ter esse espaço maravilhoso fechado durante tanto tempo e com isso saímos para fora do circuito. Veja quantos shows importantes já tivemos aqui, Paul McCartney, Ramones, ACDC, David Bowie, não importa o estilo, tem grandes shows acontecendo e isso é muito importante para a música e para a cidade”


Como foi a história do início do Blindagem?
"Foi algo curioso, pois o Blindagem não tem muitas gravações, nunca se preocupamos muito com isso. Tivemos algumas músicas que tocaram muito em rádio, mas foram cerca de 6 ou 7 músicas das quase 50 que a gente gravou e sempre quando tocamos tem muita gente que canta junto. Antigamente tocávamos muito, desde o surgimento fazíamos shows sem parar e sempre com músicas autorais. As pessoas começaram a gostar nos ouvindo cantar. De tanto tocar acabou virando sucesso."


Uma dica para quem quer começar?
"Por mais difícil que seja, insista no seu trabalho. Se hoje toco em um bar é porque eu quero tocar. Eu não precisaria, mas acho divertido, até faço cover. Sei que é difícil, mas se você tem um trabalho autoral, foque nele, se você faz cover, foque nisso. Não saia da sua identidade."


Vocês tocam com orquestra, como vocês juntam estes dois estilos musicais?
"A primeira banda do Brasil a fazer um show com orquestra foi a nossa. Eu particularmente sempre quis tocar com orquestra. Vi Beatles fazer show com orquestra, vi Scorpions e Deep Purple fazer show orquestra depois outras bandas. ”

“Acho a coisa mais linda do mundo esta interatividade do rock com a orquestra, até porque considero vários compositores e mestres da música clássica roqueiros."

“É maravilhoso você misturar Villa-Lobos com La Vai o Trem. É muito bom, é música, você pode até não gostar, mas não pode desmerecer o trabalho de qualquer um que faz qualquer coisa. ”


E as letras com Paulo Leminski? Sempre tiveram muitas parcerias do Blindagem, fale um pouco.
"Na época era algo de sinergia, núcleos culturais. Tinha o Leminski que era um letreirista, o Ivo que era músico, eu era mais jovem mas convivia. Tinha um movimento artístico chamado "MAPA" (Movimento Artístico Paranaense Autoral). O Leminski sempre gostou de escrever, e a amizade dele com o Ivo se complementaram nesta parte artística. ”

“O Leminski escrevia tudo de uma forma haikai mas Ivo escrevia com 3 notas musicais algo bonito. Em mesa de bar vi surgir coisas lindas. Tinha um projeto chamado Em prol de um português elétrico e o Leminski estava junto. As letras desde lá atrás eram do Paulo Leminski, ele é um cara muito criativo, um cara fácil de lidar. Uma vez eu fui na casa do Leminski e Gilberto Gil estava lá. Ele foi o primeiro a ouvir a fita do blindagem."

3 comentários:

  1. Blindagem faz parte da minha historia, é sempre bom conhecer um pouco mais sobre esses monstros do rock. Tenho orgulho de ter crescido ouvindo eles contando a historia do nosso Paraná. Parabéns senhores ótima reportagem!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Obrigado, Julio!
    Realmente o Blindagem é uma parcela importante da história do nosso estado e precisamos valorizar ainda mais isso. Agradecemos pelo feedback.

    ResponderExcluir

Post Top Ad

Your Ad Spot