Foto: Divulgação.
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A Teoria Pixar é uma tese desenvolvida pelo jornalista Jon Negroni
que defende que todos os filmes da Pixar estão interligados e se passam no
mesmo universo. O jornalista baseia seus argumentos nos chamados easter eggs,
nome dado aos segredos escondidos dentro de programas, sites ou filmes, muito
recorrentes nas animações da empresa. A teoria de Negroni centraliza o conflito
entre homens, animais e inteligência artificial como sendo as peças que ligam
os filmes que não contam apenas a própria história, mas ajudam na narrativa de
um evento maior.
A linha cronológica de Negroni começa com “Valente” (2012), e a
personagem que mais chama atenção é a Bruxa, detentora de uma mágica que
supostamente solucionaria os problemas da protagonista Merida. Na animação
vemos animais e objetos inanimados se comportando como humanos por influência
dessa mágica. A Bruxa de “Valente”, aparentemente desaparece após atravessar
portas, fato que será muito importante para dar sentido a teoria. Para o
jornalista, os animais se reproduzem e começam a formar uma população de
inteligência própria, esse ponto será abordado com mais clareza nos próximos
filmes da linha cronológica: “Ratatouille”, “Procurando Nemo” e “Up- Altas
Aventuras”.
Em “Ratatouille” (2007), o rato Remy cria relações com um humano
para poder realizar o sonho de ser um chef de cozinha. A humanização dos
animais ainda não é completa, pois Remy precisa da ajuda de um humano para
alcançar seu objetivo, ao contrário de outras animações em que humanos e
animais se comportam como iguais. O vilão do longa, Skinner, simplesmente
desaparece, levando o conspirador a acreditar que ele teria fugido e, de alguma
forma, entrado em contato com o antagonista de “Up- Altas Aventuras” (2009),
Charles Muntz. Muntz teria então idealizado os colares que expõem os
pensamentos dos animais, para que estes pudessem ser apenas controlados, e não
conseguissem se rebelar. Após a morte do antagonista de “Up”, os humanos sabiam
do potencial dos animais e começaram a revolução industrial mencionada no filme.
Em “Procurando Nemo” (2003) os dois mundos começam a colidir.
Temos animais que temem os humanos, que estão começando a se armar contra
animais inteligentes. Em “Procurando Dory” (2016), que acontece um ano após a
história de “Procurando Nemo”, nos é contado que Dory nasceu em cativeiro, por
esse motivo, ela aprendeu a ler e é indiferente aos seres humanos. Entretanto
para quase todos os animais retratados na animação, fugir para longe da
humanidade é a única garantia de felicidade.
Do outro lado temos o conflito entre homens e as máquinas. Em “Os
Incríveis” (2004), temos os super humanos, o filme é ambientado, aparentemente,
em meados da década de 60 ou 70, mostra o vilão Sindrome, supostamente
controlando máquinas para se vingar do herói, Sr. Incrível. Entretanto, segundo
a teoria de Negroni, as máquinas estariam manipulando Síndrome para atingir o
próprio objetivo, que é a destruição dos super-humanos. Temos nesse filme, o
primeiro combate direto entre inteligência artificial e seres humanos. “Os
Incríveis” seria, segundo o conspirador, uma introdução para o próximo filme na
linha cronológica: “Toy Story”.
Analisando os filmes produzidos pela Pixar dentro da visão
conspiratória proposta por Negroni, temos um contexto onde animais se rebelam
contra os humanos porque eles estão poluindo a Terra e realizando experimentos,
e temos máquinas com inteligência e personalidades próprias tomando o poder e
manipulando os homens.
Ainda em “Os Incríveis”, Síndrome nos dá a resposta para como
máquinas e objetos inanimados ganham vida e inteligência própria. A chamada
“Energia de Ponto Zero”, que é a energia existente no vácuo, invisível e
presente em comprimentos de onda eletromagnéticas, é uma resposta plausível a
essa questão.
Em “Toy Story” (1995) vemos que os objetos ainda dependem e confiam
nos seres humanos, sem eles, os brinquedos perdem a vida, como mostrado no
filme. O cenário ainda não é de objetos tomando o controle, ou de homens
dependendo totalmente das máquinas.
Esse cenário só é visto nas animações “Carros” e “Wall-E”. Em
“Carros” (2006) não vemos nem animais nem humanos. Segundo Negroni, a Terra
teria ficado inabitável para os seres humanos após a guerra entre animais e
humanos, as máquinas, que saíram e defesa dos homens, ganharam a luta, levando
os animais a extinção, e os humanos teriam sido levados para uma nave, fora do
planeta. Por isso nem homens, nem animais aparecem em “Carros”, apesar das
máquinas continuarem a viver normalmente nos países que já conhecemos.
O enredo de “Wall-E” (2008) passa 800 anos após os seres humanos
terem deixado a Terra, agora inabitável, a bordo da nave Axiom. Nesse contexto
os seres humanos são totalmente dependentes da tecnologia, e não fazem nada
sozinhos. Depois que Wall-E liberta os humanos da Axiom, eles retornam à Terra
já habitável, voltam a conviver em sociedade e reconstroem a sua história como
humanidade com o auxílio do robô. Nos créditos finais do filme, vemos o sapato
que continha a última planta do planeta, virar uma árvore.
O filme que segue na ordem cronológica de acordo com a teoria é
“Vida de Inseto” (1998). Segundo Negroni, nenhum humano aparece em “Vida de
Inseto” porque ainda existem poucos deles no planeta. O longa passa em um tempo
entre a volta dos humanos, e a total colonização. Os insetos teriam se
multiplicado mais rápido que outros seres, como os pássaros, que já aparecem no
filme, colocando-o um tanto distante de “Wall-E” na linha temporal. Os animais
em “Vida de Inseto” são totalmente humanizados, possuindo até mesmo centros
comerciais. A animação, juntamente com “Carros” e “Carros 2” nem sequer cita a
existência de humanos.
Segundo a teoria proposta por Jon Negroni, homens, máquinas e
animais vivem em equilíbrio até surgir outra superespécie, os monstros. O mundo
apresentado em “Monstros S.A” (2001) se passaria em um futuro muito longínquo
na linha cronológica do planeta Terra. Para o autor, esses monstros poderiam
ser animais modificados pela radiação, ou cruzamentos entre humanos e animais
para manter a espécie. Na animação, temos uma grave crise de energia, por não
existirem mais humanos, que para Negroni, são a fonte de energia das máquinas.
Para solucionar esse problema, as máquinas criam um sistema de viagem no tempo,
para voltarem a um passado onde humanos ainda existiam e captar energia. Esse
processo é visto na empresa em que James Sullivan e Mike Wazowski trabalham. A
Monstros S/A produz energia para a cidade de Monstrópolis captando o grito das
crianças que são assustadas pelos monstros a noite. As portas usadas pelos
funcionários da corporação, não são portas para um universo paralelo, mas sim
portas que levam para o passado, onde a civilização humana era abundante,
armazenando energia para evitar a extinção dos monstros.
A personagem mais relevante em “Monstros S.A.” é Boo, a criança
que acaba passando para o mundo dos monstros. Ela cria um afeto tão grande pelo
monstro Sully que fica obcecada em tentar encontrá-lo novamente, e para isso
ela acha uma maneira de usar as portas para avançar e voltar no tempo. Segundo
a teoria, a pequena Boo torna-se a Bruxa de Valente, voltando à Idade Média
apenas para buscar mais magia do Fogo Fátuo, para continuar em sua busca
interminável por Sullivan.
Para Negroni, “Divertida Mente” (2015) ajuda a confirmar a teoria.
Na animação fica claro que as emoções tomam as decisões pelos seres humanos, e
a mais poderosa é a Alegria, motivo pelo qual o riso é uma fonte de energia
maior que o medo, conforme dito em “Monstros S.A”. Mas o personagem que
concretiza a teoria de que a animação sobre monstros está sim, no futuro, é Bing
Bong. O amigo imaginário de Riley, é na verdade o monstro que a fazia rir pela
noite, para coletar energia. A mudança de susto para riso, mostra que os
monstros passaram a ocupar um lugar especial na vida da criança, que passa a
ter carinho por ele.
A Teoria Pixar nos mostra um universo bem maior do que o proposto
apenas pelos filmes, entretanto, se tomarmos a teoria como algo real, a
discussão passa a ser os motivos pelo qual a Pixar esconderia esse enredo
dentro de suas produções.
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Por Carolini Déa, Fernanda Fachinni, Giancarlo Mazza, Juan
Lamonatto, Matheus Ribeiro e Renata Colombo
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