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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

"Não é coragem, é liberdade"



A curitibana Carol Lippmann, a “Lady Fofa”, fala sobre preconceito, obesidade e liberdade de se vestir bem




Carolina Lippmann, 32 anos, curitibana. Carol trabalha na área administrativa, mas aplica os conhecimentos e habilidades adquiridos na faculdade de Relações Públicas para trabalhar em prol de um público muitas vezes maltratado, o público plus size. Criou um blog onde dá dicas de grifes e até de filmes e séries, além de ajudar muitas mulheres a vencer o preconceito que sofrem de amigos, familiares, desconhecidos e até delas mesmas. Todo o projeto teve uma guinada quando Carol postou uma foto em sua página no Facebook, usando biquíni em uma praia de Santa Catarina. A seguir, Carol conta um pouco sobre sua experiência e da ajuda que já prestou a várias mulheres.

Carol você tem o blog, mas também tem outro trabalho. Como, exatamente, você equilibra essa dupla jornada?
Então, na verdade eu me formei em relações públicas em 2007, o que já faz um tempo. Na época eu não estava conseguindo emprego na área e acabei passando por diversas atividades. Hoje eu trabalho no financeiro, e sou RP (relações públicas), maquiadora e blogueira. Então, já rodei bastante. (risadas). O blog, na verdade, comecei há quase dois anos, com intuito de ajudar meninas que são gordinhas a se vestir melhor e a melhorar sua autoestima.

Quais os seus planos e projetos para o futuro do blog?
Eu quero ter mais tempo pra conseguir fazer mais posts, para escrever mais. Algo que eu gosto muito de fazer, falar sobre amor próprio, sobre autoestima, para ajudar essas mulheres. Meu objetivo é continuar melhorando o meu blog, faço de tudo por ele e pra trazer bom conteúdo pras minhas seguidoras. Então eu preciso mesmo é de tempo, por que nas redes sociais eu consigo ainda, no meio do dia, arrumar momentos pra escrever lá, mas o blog precisa de mais atenção.

Enquanto sua página no Facebook tem hoje mais de 18 mil seguidores, há outras blogueira que tratam também do plus size, mas que não alcançaram tanto sucesso ou repercussão. Qual você acha que é o motivo dessa diferença?
Comecei o blog e a atividade nas redes sociais como hobby, o verdadeiro divisor de águas foi uma foto de biquíni que postei na página do Facebook em Janeiro do ano passado e que gerou muita repercussão. Minha página tinha cerca de 700 curtidas na época e teve um salto pra mais de 5 mil, de um dia para o outro. Eu estava de férias em Florianópolis e meu marido tirou uma foto, eu gostei e decidi postar. Acho que a legenda da foto também influenciou, eu escrevi “não é coragem, é liberdade”. É preciso ter coragem pra matar uma cobra não pra vestir um biquíni e aproveitar a praia. Logo que o contador de likes começou a aumentar eu comecei a receber ligações de diversas redes de televisão e jornais, querendo me entrevistar. E eu fiquei sem saber o que estava acontecendo. Marquei todas as entrevistas para o mesmo dia, voltei pra Curitiba só pra dar entrevista, e então retornei para as minhas férias. Então esse foi o divisor de águas, tanto para o blog quanto pra minha vida mesmo, cheguei até a fazer uma tatuagem do biquíni.

Então essa foto foi boa na sua vida profissional, mas na vida pessoal também?
Foi, foi muito bacana. Na verdade o reconhecimento que a gente recebe das pessoas e as mensagens que eu recebi das meninas dizendo: “nossa Carol, por sua causa eu comprei um biquíni, estou indo pra praia e nunca usei um biquíni. Muito obrigado por me ajudar”. E a melhor parte é isso, poder ajudar essas mulheres que um dia eu fui.

Houve muita reação positiva à foto, mas também houve reações negativas?
Se fosse pra colocar em uma porcentagem, eu diria que 95% foram reações positivas e 5% negativas. Pelo menos, os comentários ruins na minha foto foram pouquíssimos, e a gente vê que realmente são pessoas ignorantes e que não sabem o que estão falando. O grande problema foi nas emissoras, se você entrar nos comentários vê que é só gente falando mal, não tem bons comentários. E dá pra ver que é só gente que não de gente gorda mesmo e que acha ser gordo é ser doente, já que o peso não indica nada, ninguém foi ver meus exames pra falar da minha saúde.

Você sofreu bullying na infância?
Já sofri muito bullying, mas sofri na escola, e sei que crianças como nerds, gordos ou pessoas quietas sofrem Bullying nesse ambiente e acho que é um pouco normal, principalmente na minha época de criança, mas sei que isso causa muitos problemas na vida adulta. Sofri bastante Bullying, mas pelo menos sempre tive muito apoio da minha família, apenas uma pessoa fazia
Bullying comigo. Mas no meu núcleo (mãe, pais, irmãos) nunca me chamaram de feia. Já recebi inúmeras mensagens de meninas que sofrem bullying dentro de casa, sofrem preconceito dos pais, é muito difícil lidar com essas meninas e muito difícil de saber o que falar para elas.

Que idade tinham essas meninas?
Geralmente são adolescentes entre 18-19 anos, ainda jovens. “Ai Carol, sou gorda e feia, não consigo arrumar namorado, minha mãe diz que é porque sou gorda” e respondo a elas: “Não sei vai te ajudar, mas nunca fiquei sem namorar por causa do meu peso, sempre namorei”, então eu nunca tive problemas de namoro por causa do meu peso, e tento colocar isso na cabeça delas, não é por causa disso. Elas simplesmente não encontraram uma pessoa em que bateu os gostos, ou que surgiu afinidade. Mas é muito triste quando é dentro de casa, é muito complicado, tenho muita dificuldade para falar com quem teve esses casos, pois eu não passei por isso em casa. E esse preconceito continua acontecendo no mundo que vivemos hoje, mesmo com tudo se desenvolvendo.

Você acha que o preconceito está diminuindo?
Está melhorando muito, mas ainda falta representatividade do jeito certo, não como em uma novela ou filme em que aparece uma gorda representando uma gorda. No fim do ano passado tivemos até uma gorda na revista Playboy. Então acho que está melhorando. Tem muitos eventos como o Miss Brasil Plus Size.

Já chegou a ter problemas com médicos?
A questão médica é bem complicada, pois o que define que uma pessoa é obesa é o IMC, que é uma ferramenta antiquada. Apesar de admirar muito o trabalho dos médicos, eu já sofri muito preconceito vindo deles, por exemplo, muitos médicos não querem me examinar, pois para eles é a obesidade que faz ficar mal, 'você tem que emagrecer senão você vai morrer'. Ano passado, por exemplo, meus pés estavam inchados por causa do calor e fui ao médico com medo ter varizes. Consultei uma especialista vascular e falei da minha preocupação com as varizes. Ela olhou para mim e falou que eu tinha emagrecer, falou que eu era uma bomba relógio, sem nem encostar em mim, ela não pediu nenhum exame e falou que não há nada, mas disse que eu precisava emagrecer e ficou focando naquilo. Então eu marquei um cardiologista, e contei todo o episódio para ele, e após muitos exames ele concluiu que eu não tinha nenhuma variz, eu estava inchando por causa do calor. Ou seja, a doutora me deu um diagnóstico errado, mas eu realmente não tenho nada. Peso não reflete saúde. A gente pode morrer por receber esses diagnósticos errados.

Pela maneira como você fala, é correto dizer que não se incomoda com o termo “gordo”?
Sim, já foi o tempo em que isso me incomodava. Claro que tem vezes que é usado pra ofender, e a gente percebe isso. Dependendo do contexto é muito ofensivo. É diferente, por exemplo, de eu entrando no carro de uma amiga e dizendo “não amiga, eu não vou caber aí, eu sou gorda”, elas até tentam negar, mas eu digo “não, eu sou gorda”. Não tem que ficar escondendo, sou gorda e pronto.

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Por Giancarlo Mazza e Juan Lamonatto

Atualizado 06/10/17, às 12h47.

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