Imagem: Divulgação. |
Na quinta-feira, 9 de novembro, começou o Festival de Cinema da Bienal de Curitiba e a abertura ocorreu no shopping Crystal, no Espaço Itaú de Cinema. A mostra foi até o dia 19 de novembro e apresentou mais de 100 produções, nacionais e internacionais, entre curtas e longas metragens.
As apresentações
ocorreram, além do Espaço Itaú, no Cine Guarani (Portão Cultural), na
Cinemateca de Curitiba e no SESC Paço da Liberdade. Entre as diversas películas,
estão novas produções de países como Israel, China e Noruega, entre outros. Já
os clássicos que foram exibidos contam com “Ran”, de Akira Korusawa, “Novelle Vague”,
de Jean-Luc Godard, e muito mais.
Um dos itens, porém, que
mais chamou a atenção, foi o filme exibido na abertura. “Arábia”, dos diretores
Affonso Uchôa e João Dumans, enfoca a história de Cristiano
(Aristides de Sousa), que é um ex-presidiário. Depois de alcançar a liberdade,
viajou por várias partes do país à procura de emprego até chegar em uma velha
fábrica de alumínio de Ouro Preto, Minas Gerais.
Em toda a trajetória da
personagem, assim como acontece com muitos brasileiros, as únicas opções que
aparecem são de sub-emprego. O patrão não se importa com a saúde ou as condições do empregado, apenas se interessa em reduzir seus próprios
prejuízos e buscar mais rendimento. Isso, às custas do funcionário que nada tem, a não
ser o seu “braço forte e a (...) vontade de acordar cedo”.
Ainda assim, o que mais
incomoda nessa história toda é a frustração de ver a abertura do festival, que
fala do trabalhador e na linguagem que o trabalhador entende, mas sem
oportunidade que ele mesmo esteja presente. Sim, pois aquele que leva sua jornada
até às 17h ou 18h numa construção, fábrica, na rua ou mesmo em um escritório,
não tem tempo nem disposição de ir para casa, tomar seu banho, vestir a “roupa
de sair” e chegar ainda com tempo de ver o filme.
Apesar de a entrada ser
acessível (quando é preciso pagar) os horários e, muitas vezes, a linguagem apresentada
não são para acesso desse indivíduo que é chamado a conhecer a dita alta
cultura. Apesar de ser uma tentativa louvável de divulgar as produções
cinematográficas independente e clássica, é esse esforço o que ressalta o motivo
de continuarmos a realizar ações como esta.
Não é por acreditarmos nos
resultados, já que as estratégias não se adequam ao objetivo almejado, mas é um
desabafo. Uma maneira de admitir a frustração em somente conseguir produzir
cultura para intelectuais que já participam da mesma, não alcançando nem o
patrão que precisa entender o lado do funcionário, nem o funcionário que não
entende bem seu próprio lado.
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Por Juan Lamonatto
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